terça-feira, 20 de março de 2012


Um exemplo de paródia e de transgressão/manutenção
 é o poema "As meninas da gare", do escritor 
modernista Oswald de Andrade, transcrito abaixo,
 e que parodia um trecho da Carta de Caminha:

Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem novinhas e
 gentis,  com cabelos muito pretos, compridos pelas costas;
 e suas  vergonhas, tão altas, tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras
 que, de as nós bem olharmos, não se envergonhavam.

( CAMINHA, Pero Vaz de Cartas a EL Rei D. Manuel São Paulo. DomInus. 1963)

 As meninas da gare  (Oswald de Andrade)
Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha
  (ANDRADE, Oswald de. Cadernos de poesia do aluno Oswald.
São Paulo: Cículo do livro,p.72)

 *Irônico, irreverente e parodiador, Oswald de Andrade recriou
 poeticamente em "As meninas da gare" um trecho da carta de 
Pero Vaz Caminha a Dom Manuel. As palavras da carta e do
 poema são praticamente as mesmas, mas o sentido é diferente. 
Caminha fala da inocência das índias, tanta inocência que elas
 tinham que de olhar as suas vergonhas, ele não sentia vergonha.
 Já o poeta, ao dar um título (As meninas da gare), muda a semântica: 
gare, em francês, significa estação de estrada de ferro, ou seja, eram 
as prostitutas e justamente por serem prostitutas, não sentia vergonha 
de muito bem olhar suas vergonhas


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