quinta-feira, 24 de novembro de 2011


PORQUE / PORQUÊ / POR QUE / POR QUÊ

1. PORQUE é usado introduzindo:

explicação.

Não reclames, porque é pior.

causa.

Faltou à aula porque estava doente.

2. PORQUÊ é usado como substantivo; é sinônimo de motivo, razão.

Não sei o porquê disso.

3. POR QUE é usado equivalendo a:

pelo qual, pelos quais, pela qual, pelas quais.

São muitos os lugares por que passamos. (pelos quais)

motivo, razão e causa nas frases interrogativas diretas e indiretas.

Por que você fez isso? (interrogativa direta)

Não sei por que você fez isso. (interrogativa indireta)

4. POR QUÊ é usado ao final da frase interrogativa. O que torna-se tônico, justificando, pois a presença do acento gráfico.

Você fez isto por quê?

domingo, 6 de novembro de 2011


COMO USAR OS CONECTIVOS?
  Introdução 
 Os conectivos são vocábulos gramaticais que estabelecem relações entre as palavras de uma frase. Em português há três espécies de conectivos:
 a) As preposições;
 b) Os pronomes relativos;
 c) As conjunções.
   1.Uso Dos Conectivos
  1.1-As preposições ora são usadas por exigência gramatical, ora com função semântica:
    Gosto de Ler.                                pulseira de ouro
  No primeiro caso , são chamadas relacionais , no segundo , nocionais.
  1.2-Os pronomes relativos, como conectivos , devem vir precedidos das  preposições exigidas pelos verbos presentes nas frases em que estão inseridos:
Esta é a casa de que gosto.
(e não:que gosto)
Este é o livro a que me referi
(e não:que me referi)
  1.3-As conjunções , coordenativas ou subordinativas, estabelecem relações claras entre frase ou palavras de mesma função e devem ter seu significado cuidadosamente preservado , já que são fundamentais na progressão e na coerência/coesão do texto.


Profª: Sandra Fumian

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

http://www.youtube.com/watch?v=DUl7rNoGvp8

Queridos alunos do 8º ano, através do vídeo  acima e das características abaixo, poderemos entender  melhor o
 texto-teatral-ou-dramático.
Características do Texto Dramático

 É constituído por:
  • Texto principal: composto pelas falas dos actores que é ouvido pelos espectadores;
  • Texto secundário (ou didascálio): que se destina ao leitor, ao encenador da peça ou aos actores.
É composto:
    • pela listagem inicial das personagens;
    • pela indicação do nome das personagens no início de cada fala;
    • pelas informações sobre a estrutura externa da peça (divisão em actos, cenas ou quadros);
    • pelas indicações sobre o cenário e guarda roupa das personagens;
    • pelas indicações sobre a movimentação das personagens em palco, as atitudes que devem tomar, os gestos que devem fazer ou a entoação de voz com que devem proferir as palavras;

 Ação – é marcada pela atuação das personagens que nos dão conta de acontecimentos vividos.
 Estrutura externa – o teatro tradicional e clássico pressupunha divisões em actos, correspondentes à mutação de cenários, e em cenas e quadros, equivalentes à mudança de personagens em cena.
O teatro moderno, narrativo ou épico, põe completamente de parte as normas tradicionais da estrutura externa.
 Estrutura interna:
  • Exposição – apresentação das personagens e dos antecedentes da acção.
  • Conflito – conjunto de peripécias que fazem a acção progredir.
  • Desenlace – desfecho da acção dramática.
 Classificação das Personagens:
Quanto à sua concepção:
  • Planas ou personagens-tipo – sem densidade psicológica uma vez que não alteram o seu comportamento ao longo da acção. Representam um grupo social, profissional ou psicológico);
  • Modeladas ou Redondas – com densidade psicológica, que evoluem ao longo da acção e, por isso mesmo, podem surpreender o espectador pelas suas atitudes.

Quanto ao relevo ou papel na obra:
  • protagonista ou personagem principal Individuais
  • personagens secundárias ou
  • figurantes Colectivas

 Tipos de caracterização:
  • Direta – a partir dos elementos presentes nas didascálias, da descrição de aspectos físicos e psicológicos, das palavras de outras personagens, das palavras da personagem a propósito de si própria.
  • Indireta – a partir dos comportamentos, atitudes e gestos que levam o espectador a tirar as suas próprias conclusões sobre as características das personagens.

 Espaço – o espaço cénico é caracterizado nas didascálias onde surgem indicações sobre pormenores do cenário, efeitos de luz e som. Coexistem normalmente dois tipos de espaço:
  • Espaço representado – constituído pelos cenários onde se desenrola a acção e que equivalem ao espaço físico que se pretende recriar em palco.
  • Espaço aludido – corresponde às referências a outros espaços que não o representado.
 Tempo:
  • Tempo da representação – duração do conflito em palco;
  • Tempo da acção ou da história – o(s) ano(s) ou a época em que se desenrola o conflito dramático;
  • Tempo da escrita ou da produção da obra – altura em que o autor concebeu a peça.
 Discurso dramático ou teatral:
  • Monólogo – uma personagem, falando consigo mesma, expõe perante o público os seus pensamentos e/ou sentimentos;
  • Diálogo – falas entre duas ou mais personagens;
  • Apartes – comentários de uma personagem para o público, pressupondo que não são ouvidos pelo seu interlocutor.
Além deste tipo de discurso, o tecto dramático pressupõe o recurso à linguagem gestual, à sonoplastia e à luminotécnica.
 Intenção do autor - pode ser:
  • Moralizadora;
  • Lúdica ou de evasão;
  • Crítica em relação à sociedade do seu tempo;
  • Didática.
 Formas do gênero dramático:
  • Tragédia
  • Comédia
  • Drama
  • Teatro Épico.

 Outras características:
  • Ausência de narrador.
  • Pessoa gramatical predominante (EU/TU).

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

POEMAS DE MANUELA MARGARIDO

                                MANUELA MARGARIDO
                                                  
                                              (1925-2007)


Maria Manuela Conceição Carvalho Margarido (roça Olímpia, Ilha do Príncipe, 1925 - Lisboa, 10 de Março de 2007) foi uma poetisa são-tomense.
Manuela Margarido cedo abraçou a causa do combate anti-colonialista, que a partir da década de 1950 se afirmou em África, e da independência do arquipélago. Em 1953, levanta a voz contra o massacre de Batepá, perpetrado pela repressão colonial portuguesa.
Denunciou com a sua poesia a repressão colonialista e a miséria em que viviam os são-tomenses nas roças do café e do cacau.
Estudou ciências religiosas, sociologia, etnologia e cinema na Sorbonne de Paris, onde esteve exilada. Foi embaixadora do seu país em Bruxelas e junto de várias organizações internacionais.
Em Lisboa, onde viveu, Manuela Margarido empenhou-se na divulgação da cultura do seu país, sendo considerada, a par de Alda Espírito Santo, Caetano da Costa Alegre e Francisco José Tenreiro, um dos principais nomes da poesia de São Tomé e Príncipe.
Fonte: Wikipédia
II
Abstracto o Outono
como de folhas caídas
inteiramente feito.
De voo indefinido
faço a ave que sonho
e no céu a lanço
cinzenta de espanto.
Olho e não sei:
vejo-me nua na nuvem
que ora passa.
Lento ponteiro que sofre
a prisão da sua marcha.
XVI
No dia em que te foste embora,
longos navios de silêncio
encheram a casa,
tão grande, tão vasta!
Todos os gatos da vizinhança
comiam cogumelos
e varriam as cascatas
dos cemitérios
com agudas lâminas de tédio.
No cais das horas
fiquei a esperar-te:
grande pedra de saudade
de olhos hirtos.
Paira sobre mim a presença
de uma mão pálida
e sempre uma ave parte:
nunca sei para onde.

VÓS QUE OCUPAIS A NOSSA TERRA
E preciso não perder
de vista as crianças que brincam:
a cobra preta passeia fardada
à porta das nossas casas.
Derrubam as árvores fruta-pão
para que passemos fome
e vigiam as estradas
receando a fuga do cacau.
A tragédia já a conhecemos:
a cubata incendiada,
o telhado de andala flamejando
e o cheiro do fumo misturando-se
ao cheiro do andu
e ao cheiro da morte.
Nos nós conhecemos e sabemos,
tomamos chá do gabão,
arrancamos a casca do cajueiro.
E vós, apenas desbotadas
máscaras do homem,
apenas esvaziados fantasmas do homem?
Vós que ocupais a nossa terra?

V

A ilha te fala
de rosas bravias
com pétalas
de abandono e medo.

No fundo da sombra
bebendo por conchas
de vermelha espuma
que mundos de gentes
por entre cortinas
espessas de dor.

Oh, a tarde clara
deste fim de Inverno!
Só com horas azuis
no fundo do casulo,
e agora a ilha,
a linha bravia das rosas
e a grande baba negra
e mortal das cobras.


SOCOPÉ

Os verdes longos da minha ilha
são agora a sombra do ocá,
névoa da vida,
nos dorsos dobrados sob a carga
(copra, café ou cacau — tanto faz).
Ouço os passos no ritmo
calculado do socopé,
os pés-raízes-da-terra
enquanto a voz do coro
insiste na sua queixa
(queixa ou protesto — tanto faz).
Monótona se arrasta
até explodir
na alta ânsia de liberdade.

ROÇA

A noite sangra
no mato,
ferida por uma aguda lança
de cólera.
A madrugada sangra
de outro modo:
é o sino da alvorada
que desperta o terreiro.
E o feito que começa
a destinar as tarefas
para mais um dia de trabalho.

A manhã sangra ainda:
salsas a bananeira
com um machim de prata;

capinas o mato
com um machim de raiva;
abres o coco
com um machim de esperança;
cortas o cacho de andim
corn um machim de certeza.

E à tarde regressas
a senzala;
a noite esculpe
os seus lábios frios
na tua pele
E sonhas na distância
uma vida mais livre,
que o teu gesto
há-de realizar.

PAISAGEM

Entardecer... capim nas costas
do negro reluzente
a caminho do terreiro.
Papagaios cinzentos
explodem na crista das palmeiras
e entrecruzam-se no sonho da minha infância,
na porcelana azulada das ostras.
Alto sonho, alto
como o coqueiro na borda do mar
com os seus frutos dourados e duros
como pedras oclusas
oscilando no ventre do tornado,
sulcando o céu com o seu penacho
doido.
No céu perpassa a angústia austera
da revolta
com suas garras suas ânsias suas certezas.
E uma figura de linhas agrestes
se apodera do tempo e da palavra.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

POEMAS DE JORGE BARBOSA





JORGE BARBOSA
(1902-1971)


Jorge Vera-Cruz Barbosa nasceu na Ilha de Santiago, Cabo Verde, em 1902. Faleceu em Cova da Piedade, Portugal, em 1971. Foi funcionário público. Um dos membros mais importantes do movimento Claridade.
Publicou: Arquipélago. São Vicente: Cabo Verde, 1936; Ambiente. Praia: Cabo Verde, 1941.Caderno de um Ilhéu. Lisboa: 1956.


PRELÚDIO

Quando o descobridor chegou à primeira ilha
nem homens nus
nem mulheres nuas
espreitando
inocentes e medrosos
detrás da vegetação.

Nem setas venenosas vindas do ar
nem gritos de alarme e de guerra
ecoando pelos montes.

Havia somente
as aves de rapina
         de garras afiadas
as aves marítimas
         de vôo largo
as aves canoras
         assobiando inéditas melodias.

E a vegetação
cujas sementes vieram presas
nas asas dos pássaros
ao serem arrastados para cá
pelas fúrias dos temporais.

Quando o descobridor chegou
e saltou da proa do escaler varado na praia
enterrando
o pé direito na areia molhada

e se persignou
receoso ainda e surpreso
pensa n´El-Rei
nessa hora então
nessa hora inicial
começou a cumprir-se
este destino ainda de todos nós.


VOCÊ: BRASIL

Eu gosto de você, Brasil,
porque você é parecido com a minha terra.
Eu bem sei que você é um mundão
e que a minha terra são
dez ilhas perdidas no Atlântico,
sem nenhuma importância no mapa.
Eu já ouvi falar de suas cidades:
A maravilha do Rio de Janeiro,
São Paulo dinâmico, Pernambuco, Bahia de Todos-os-Santos.
Ao passo que as daqui
Não passam de três pequenas cidades.
Eu sei tudo isso perfeitamente bem,
mas Você é parecido com a minha terra.

E o seu povo que se parece com o meu,
que todos eles vieram de escravos
com o cruzamento depois de lusitanos e estrangeiros.
E o seu falar português que se parece com o nosso falar,
ambos cheiros de um sotaque vagaroso,
de sílabas pisadas na ponta da língua,
de alongamentos timbrados nos lábios
e de expressões terníssimas e desconcertantes.
É a alma da nossa gente humilde que reflete
A alma das sua gente simples,

Ambas cristãs e supersticiosas,
sortindo ainda saudades antigas
dos sertões africanos,
compreendendo uma poesia natural,
que ninguém lhes disse,
e sabendo uma filosofia sem erudição,
que ninguém lhes ensinou.

E gosto dos seus sambas, Brasil, das suas batucadas.
dos seus cateretês, das suas todas de negros,
caiu também no gosto da gente de cá,
que os canta dança e sente,
com o mesmo entusiasmo
e com o mesmo desalinho também...
As nossas mornas, as nossas polcas, os nossos cantares,
fazem lembrar as suas músicas,
com igual simplicidade e igual emoção.

Você, Brasil, é parecido com a minha terra,
as secas do Ceará são as nossas estiagens,
com a mesma intensidade de dramas e renúncias.
Mas há no entanto uma diferença:
é que os seus retirantes
têm léguas sem conta para fugir dos flagelos,
ao passo que aqui nem chega a haver os que fogem
porque seria para se afogarem no mar...

Nós também temos a nossa cachaça,
O grog de cana que é bebida rija.
Temos também os nossos tocadores de violão
E sem eles não havia bailes de jeito.
Conhecem na perfeição todos os tons
e causam sucesso nas serenatas,
feitas de propósito para despertar as moças
que ficam na cama a dormir nas noites de lua cheia.
Temos também o nosso café da ilha do Fogo
que é pena ser pouco,
mas — você não fica zangado —
é melhor do que o seu.

Eu gosto, de Você, Brasil.
Você é parecido com a minha terra.
O que é é tudo e à grande
E tudo aqui é em ponto mais pequeno...
Eu desejava ir-lhe fazer uma visita
mas isso é coisa impossível.
Eu gostava de ver de perto as coisas
espantosas que todos me contam
de Você,
de assistir aos sambas nos morros,
de esta cidadezinha do interior
que Ribeiro Couto descobriu num dia de muita ternura,
de me deixar arrastar na Praça Onze
na terça-feira de Carnaval.
Eu gostava de ver de perto um lugar no Sertão,
d de apertar a cintura de uma cabocla — Você deixa? —
e rolar com ela um maxixe requebrado.
Eu gostava enfim de o conhecer de mais perto
e você veria como é que eu sou bom camarada.

Havia então de botar uma fala
ao poeta Manuel Bandeira
de fazer uma consulta ao Dr. Jorge de Lima
para ver como é que a poesia receitava
este meu fígado tropical bastante cansado.
Havia de falar como Você
Com um i no si
— “si faz favor —
de trocar sempre os pronomes para antes dos verbos
— “mi dá um cigarro!”.

Mas tudo isso são coisas impossíveis, — Você sabe?
Impossíveis”.


CASEBRE
Foi a estiagem
E o silêncio depois
Nem sinal de planta
nem restos de árvore
no cenário ressequido da planície.
O casebre apenas
de pedra solta
e uma lembrança aflitiva

O teto de palha
levou-o
a fúria do sueste.

Sem batentes
as portas e as janelas
ficaram escancaradas
para aquela desolação.

Foi a estiagem que passou.

Nesses tempos
não tem descanso
a padiola mortuária da regedoria.

Levou primeiro
o corpo mirrado da mulher
com o filho nu ao lado
de barriga inchada
que se diria
que foi de fartura que morreu.
O homem depois
com os olhos parados
abertos ainda.

Tão silenciosa a tragédia das secas nestas ilhas!
Nem gritos nem alarme
— somente o jeito passivo de morrer!

No quintal do casebre
três pedras juntas
três pedras queimadas
que há muito não serviram.

E o arco do ferro do menino
com a vareta ainda presa.


POEMA DO MAR

O drama do Mar,
O desassossego domar,
                   sempre
                   sempre
                   dentro de nós!

O Mar!
cercando
prendendo as nossa Ilhas!
Deixando o esmalte do seu salitre nas faces dos pescadores,
Roncando nas areias das nossas praias,
Batendo a sua voz de encontro aos montes,
baloiçando os barquinhos de pau que vão Poe estas costas...

O Mar!
pondo rezas nos lábios,
deixando nos olhos dos que ficaram
a nostalgia resignada de países distantes
que chegam até nós nas estampas das ilustrações
nas fitas de cinema
e nesse ar de outros climas que trazem os passageiros
quando desembarcam para ver a pobreza da terra!

O Mar!
a esperança na carta de longe
que talvez não chegue mais!

O Mar!
Saudades dos velhos marinheiros contando histórias de tempos passados,
Histórias da baleia que uma vez virou canoa...
de bebedeiras, de rixas, de mulheres,
nos portos estrangeiros...

O Mar!
dentro de nós todos,
no canto da Morna,*
no corpo das raparigas morenas,
nas coxas ágeis das pretas,
no desejo da viagem que fica em sonhos de muita gente!

Este convite de toda a hora
que o Mar nos faz para a evasão!
Este desespero de querer partir
         e ter que ficar!



*Morna – música dolente de Cabo Verde.


Extraídos de
BARBOSA, Rogério Andrade. No ritmo dos tantãs; antologia poética dos países africanos de língua portuguesa;  Brasília: Thesaurus, 1991. 165 p. 

Página publicada em maio de 2008, com a autorização da Thesaurus.