domingo, 25 de março de 2012


 Os Sapos  e Poética 

1 – Abaixo segue o poema “Os sapos” de Manuel Bandeira, 
declamado por Ronald de Carvalho no segundo sarau  da 
Semana de Arte Moderna, sob vaias e gritarias. O público, 
durante a leitura, gritava em uníssono.



Os Sapos



Enfunando os sapos,
Saem da penumbra, 
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.

O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.

Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas..."

Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- A grande arte é como
Lavor de joalheiro.

Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo".

Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas,
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".

Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Veste a sombra imensa;

Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é

Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio...
     Manuel Bandeira


Pense e responda
2- Os primeiros modernistas empregam com frequência  a ironia, o deboche e a crítica à cultura oficial.
a) Aponte um exemplo de ironia ou deboche.
b) Que movimento literário, visto como representante da cultura oficial, é satirizado? Comprove sua resposta com elementos do texto.
c) A fala do sapo-tanoeiro, delimitada pelas aspas, veicula o princípio básico do movimento literário satirizado. Qual é esse princípio?
d) O que o poema diz?
e) Os vários “sapos” citados no texto formam dois grupos. Agrupe-os e explique o significado de cada grupo.
f) Em sua “profissão de fé”, Olavo Bilac escreve:
“Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.”

Em eu trecho do poema de Manuel Bandeira Há uma crítica explícita à concepção arte de Bilac?


3- “Poética”, de Manuel Bandeira, é quase um manifesto do movimento modernista brasileiro de 1922. No poema, o autor elabora críticas e propostas que representam o pensamento estético predominante na época.
 Poética 
Estou farto do lirismo comedido 
Do lirismo bem comportado 
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e 

                                                                 manifestações de apreço ao Sr. diretor. 

Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo

                                                                                                      de um vocábulo. 

Abaixo os puristas. 

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais 
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção 
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis 

Estou farto do lirismo namorador 
Político 
Raquítico 
Sifilítico 
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo. 

De resto não é lirismo 
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem 

                modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc. 

Quero antes o lirismo dos loucos 
O lirismo dos bêbados 
O lirismo difícil e pungente dos bêbados 
O lirismo dos clowns de Shakespeare. 

- Não quero saber do lirismo que não é libertação.


4) Com  base na leitura do poema, podemos afirmar corretamente que o poeta:
a) critica o lirismo louco do movimento modernista.
b) critica todo e qualquer lirismo na literatura.
c) propõe o retorno ao lirismo do movimento clássico.
d) Propõe o retorno ao lirismo do movimento romântico.
e) Propõe a criação de um novo lirismo.

5) O que o poema diz?


6) Destaque um verso no qual Manuel Bandeira defende o uso de uma linguagem mais popular, menos elitista.

7) Podemos perceber uma crítica a um movimento poético caracterizado pela linguagem clássica, pela palavra rara, pelo formalismo. Que movimento é esse?

8) Já que poética rima com métrica, qual a métrica utilizada por Manuel Bandeira?

9) Segundo Bandeira, qual deve ser a principal palavra de ordem da arte moderna?

quarta-feira, 21 de março de 2012


Carta do leitor

 #O que é uma carta ao leitor?
 A “carta do leitor” é um texto em que o leitor escreve para um jornal ou 
revista para apresentar opiniões, sugestões, críticas, perguntas, reflexões,
 elogios, etc

# Características:
a) não há regras estabelecidas, mas o leitor precisa ter cuidados caso 
queira que seu texto seja publicado;
b) recomenda-se escrever a alguém (jornalista, cronista);
c) especificar previamente o assunto (opinar, sugerir, criticar...);
d) linguagem clara, precisa e podendo ser informal, desde que não se use
 palavras de baixo-calão;
e) ser breve, já que não há tanto espaço num jornal.


Exemplos:
“A reportagem sobre Bullying foi muito interessante. Gostei muito do 
questionamento da entrevistada a respeito da prática de se chamar o
 aluno pelo número e não pelo nome, situação muito comum nas escolas.
 Por isso, minha pergunta é: seria ou não essa também uma forma de bullying?”
 (Susana Santiago, 16/04/2011, Jornal O Povo)


"O que me assusta no MMA não é a violência dos golpes, mas o sentimento 
de êxtase que invade a plateia quando o sangue jorra. Enfim, o que nos tornamos?"
(FERNANDO CEZAR A. LORANDES , Volta Redonda, RJ - Revista Veja,21/03/2012)


Atividade:Escolha uma das cartas nos exemplos acima e escreva uma carta do leitor 
debatendo sobre o questionamento levantado  pelos leitores:


Produção dos alunos

MMA
Não se dirige ao que nos tornamos, Porque naquela aflição ou entusiasmo,
as pessoas querem ver um vencedor,e quando o sangue jorra a torcida agita.
penso que  todos nós temos um instinto para brigas e que precisamos aprender
a controlá-lo, porém,  todos nós devemos saber que MMA é um esporte para 
juntar pessoas.
( Valdecir Batista R. Junior, Itaperuna dia 27/03/2012 )

Sim. Acho que colocar apelidos é bullying e às vezes, há um constrangimento
 com o apelido, por mais que  ele seja carinhoso, cada um prefere ser chamado 
pelo o seu próprio nome. Eu acho também que o bullying deve  ser exterminado.
( Antonio Carlos Gabriel da Silva Junior, Itaperuna-RJ, 27 de março de 2012 )


Gostei muito do que retratou a revista, pois a prática do bullyng infelizmente é 
presente nas escolas. Eu penso que não é necessário chamar o aluno por número, 
pois se o aluno tem seu próprio nome para ser chamado, por que  chamá-lo pelo número?
O número é usado só para a organização do diário, e não para virar seu próprio nome...
( Khamylla Batista Riguetti Reis, Itaperuna dia 27/03/2012 )


Sobre o comentário do MMA, eu acho que é uma luta comum ou  normal a qual apoio
 e defendo. Para mim, não é violência e sim um torneio comum. Quando o sangue jorra,
 eu me sinto um pouco incomodada, mas é aquele ditado “quem tá na chuva é pra se molhar”.
 Eu já pratiquei  esse tipo de luta, E aprendi a respeitar  regras, a me defender contra assaltos,
 enfim eu adoro. 
(Tainá Albino da Costa, Itaperuna-RJ 27 de março de 2012)


No meu ponto de vista,  todos têm seu direito. Os lutadores estão lá porque querem e optaram por isso,  são profissionais  e recebem para isso. A plateia tem todo o direito de fazer toda a farra que quiser, pois estão pagando para ver. Mas ATENÇÃO não pratique esse esporte  na escola ou na rua.
(Lucas R.S,Tombos –MG, 29/03/2012.)

Eu gosto muito do MMA,é um esporte muito legal, mas é muito perigoso.Quanto as brigas com sangue, acho violento e  muito perigoso também, penso que seja por isso que a plateia se agite tanto.
 (Walison Leandro,Tombos –MG ,  29-03-12)

Creio que por um lado, não é bullyng, pois é mais fácil fazer a chamada, mas, por outro lado tira a personalidade do aluno,pois cada aluno tem nome e gostaria de ser chamado por ele. (Carla Katrine Dias,Eugenópolis-MG, 27-03-2012) 

terça-feira, 20 de março de 2012


Um exemplo de paródia e de transgressão/manutenção
 é o poema "As meninas da gare", do escritor 
modernista Oswald de Andrade, transcrito abaixo,
 e que parodia um trecho da Carta de Caminha:

Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem novinhas e
 gentis,  com cabelos muito pretos, compridos pelas costas;
 e suas  vergonhas, tão altas, tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras
 que, de as nós bem olharmos, não se envergonhavam.

( CAMINHA, Pero Vaz de Cartas a EL Rei D. Manuel São Paulo. DomInus. 1963)

 As meninas da gare  (Oswald de Andrade)
Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha
  (ANDRADE, Oswald de. Cadernos de poesia do aluno Oswald.
São Paulo: Cículo do livro,p.72)

 *Irônico, irreverente e parodiador, Oswald de Andrade recriou
 poeticamente em "As meninas da gare" um trecho da carta de 
Pero Vaz Caminha a Dom Manuel. As palavras da carta e do
 poema são praticamente as mesmas, mas o sentido é diferente. 
Caminha fala da inocência das índias, tanta inocência que elas
 tinham que de olhar as suas vergonhas, ele não sentia vergonha.
 Já o poeta, ao dar um título (As meninas da gare), muda a semântica: 
gare, em francês, significa estação de estrada de ferro, ou seja, eram 
as prostitutas e justamente por serem prostitutas, não sentia vergonha 
de muito bem olhar suas vergonhas