Os Sapos e Poética
1 – Abaixo segue o poema “Os sapos” de Manuel Bandeira,
Enfunando os sapos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Poética
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo
de um vocábulo.
Abaixo os puristas.
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem
modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare.
- Não quero saber do lirismo que não é libertação.
1 – Abaixo segue o poema “Os sapos” de Manuel Bandeira,
declamado por Ronald de Carvalho no segundo sarau da
Semana de Arte Moderna, sob vaias e
gritarias. O público,
durante a leitura, gritava em uníssono.
Os Sapos
Enfunando os sapos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em
ronco que aterra,
Berra
o sapo-boi:
-
"Meu pai foi à guerra!"
-
"Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
O
sapo-tanoeiro,
Parnasiano
aguado,
Diz: -
"Meu cancioneiro
É bem
martelado.
Vede
como primo
Em
comer os hiatos!
Que
arte! E nunca rimo
Os
termos cognatos.
O meu
verso é bom
Frumento
sem joio.
Faço
rimas com
Consoantes
de apoio.
Vai
por cinquenta anos
Que
lhes dei a norma:
Reduzi
sem danos
A
fôrmas a forma.
Clame
a saparia
Em
críticas céticas:
Não há
mais poesia,
Mas há
artes poéticas..."
Urra o
sapo-boi:
-
"Meu pai foi rei!"- "Foi!"
-
"Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
Brada
em um assomo
O
sapo-tanoeiro:
- A
grande arte é como
Lavor
de joalheiro.
Ou bem
de estatuário.
Tudo
quanto é belo,
Tudo
quanto é vário,
Canta
no martelo".
Outros,
sapos-pipas
(Um
mal em si cabe),
Falam
pelas tripas,
-
"Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".
Longe
dessa grita,
Lá
onde mais densa
A
noite infinita
Veste
a sombra imensa;
Lá,
fugido ao mundo,
Sem
glória, sem fé,
No
perau profundo
E
solitário, é
Que
soluças tu,
Transido
de frio,
Sapo-cururu
Da
beira do rio...
Manuel Bandeira
Pense e responda
2- Os primeiros modernistas
empregam com frequência a ironia, o
deboche e a crítica à cultura oficial.
a) Aponte um exemplo de ironia ou
deboche.
b) Que movimento literário, visto
como representante da cultura oficial, é satirizado? Comprove sua resposta com
elementos do texto.
c) A fala do sapo-tanoeiro,
delimitada pelas aspas, veicula o princípio básico do movimento literário
satirizado. Qual é esse princípio?
d) O que o poema diz?
e) Os vários “sapos” citados no
texto formam dois grupos. Agrupe-os e explique o significado de cada grupo.
f) Em sua “profissão de fé”,
Olavo Bilac escreve:
“Invejo
o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.”
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.”
Em eu trecho do poema de Manuel
Bandeira Há uma crítica explícita à concepção arte de Bilac?
3- “Poética”, de Manuel Bandeira,
é quase um manifesto do movimento modernista brasileiro de 1922. No poema, o
autor elabora críticas e propostas que representam o pensamento estético
predominante na época.
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e
manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e
manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo
de um vocábulo.
Abaixo os puristas.
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante exemplar com cem
modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare.
- Não quero saber do lirismo que não é libertação.
4) Com base
na leitura do poema, podemos afirmar corretamente que o poeta:
a) critica o lirismo louco do movimento modernista.
b) critica todo e qualquer lirismo na literatura.
c) propõe o retorno ao lirismo do movimento clássico.
d) Propõe o retorno ao lirismo do movimento romântico.
e) Propõe a criação de um novo lirismo.
5) O que o poema diz?
6) Destaque um verso no
qual Manuel Bandeira defende o uso de uma linguagem mais popular, menos
elitista.
7) Podemos perceber uma crítica a um movimento poético caracterizado pela
linguagem clássica, pela palavra rara, pelo formalismo. Que movimento é esse?
8) Já que poética rima com métrica, qual a métrica utilizada por Manuel Bandeira?
9) Segundo Bandeira, qual deve ser a principal
palavra de ordem da arte moderna?