domingo, 8 de abril de 2012


Narração: Discursos Direto, Indireto e Indireto Livre.

Na narração, existem três formas de citar a fala (discurso) dos personagens: o discurso direto, o discurso indireto e o discurso indireto livre.

Discurso direto: Por meio do discurso direto, reproduzem-se literalmente as palavras do personagem. Esse tipo de citação é muito interessante, pois serve como uma espécie de comprovação figurativa (concreta) daquilo que acabou de ser exposto (ou que ainda vai ser) pelo narrador. É como se o personagem surgisse, por meio de suas palavras, aos olhos do leitor, comprovando os dados relatados imparcialmente pelo narrador. O recurso gráfico utilizado para atribuir a autoria da fala a outrem, que não o produtor do texto, são as aspas ou o travessão. O discurso direto pode ser transcrito:
a) Após dois-pontos, sem verbo dicendi (utilizado para introduzir discursos)
E, para o promotor, o processo não vem correndo como deveria: “Às vezes sinto morosidade por parte do juiz”.
*Utilizando-se o sinal de dois-pontos, o ponto final deve sempre ficar fora das aspas, tendo em vista que encerra todo o período (de E… até juiz).
b) Após dois-pontos, com verbo dicendi (evitável)
E o promotor disse: “Às vezes sinto morosidade por parte do juiz”.
c) Após dois-pontos, com travessão:
E Carlos, indignado, gritou:
- Onde estão todos???
d) Após ponto, sem verbo dicendi
E, para o promotor, o processo não vem correndo como deveria. “Às vezes sinto morosidade por parte do juiz.”
* O ponto final ficou dentro das aspas pois encerrou somente o período correspondente à fala do entrevistado (personagem).
e) Após ponto, com verbo dicendi após a citação
E, para o promotor, o processo não vem correndo como deveria. “Às vezes sinto morosidade por parte do juiz”, declarou.
f) Integrado com a narração, sem sinal de pontuação
E, para o promotor, o processo não vem correndo como deveria, porque “Às vezes se nota morosidade por parte do juiz”.
Discurso indireto: Por meio do discurso indireto, a fala do personagem é filtrada pela do narrador (você, no caso). Não mais há a transcrição literal do que o personagem falou, mas a transcrição subordinada à fala de quem escreve o texto. No discurso indireto, utiliza-se, após o verbo dicendi, a oração subordinada (uma oração que depende da sua oração) introduzida, geralmente, pelas conjunções que e se, que podem estar elípticas (escondidas).
Exemplos:
Fala do personagem: Eu não quero mais trabalhar.
Discurso indireto: Pedro disse que não queria mais trabalhar.
Fala do personagem: Eu não roubei nada deste lugar.
Discurso indireto: O acusado declarou à imprensa que não tinha roubado nada daquele lugar.
Você notou que, na transcrição indireta do discurso, há modificações em algumas estruturas gramaticais, como no tempo verbal (quero, queria; roubei, tinha roubado), nos pronomes (deste, daquele), etc. Confira a tabela de transposição do discurso direto para o indireto:
DIRETO - Enunciado em primeira ou em segunda pessoa: “Eu não confio mais na Justiça”; ” Delegado, o senhor vai me prender?”
INDIRETO – Enunciado em terceira pessoa: O detento disse que (ele) não confiava mais na Justiça; Logo depois, perguntou ao delegado se (ele) iria prendê-lo.
DIRETO – Verbo no presente: “Eu não confio mais na Justiça”
INDIRETO – Verbo no pretérito imperfeito do indicativo: O detento disse que não confiava mais na Justiça.
DIRETO – Verbo no pretérito perfeito: “Eu não roubei nada”
INDIRETO – Verbo no pretérito mais-que-perfeito composto do indicativo ou no pretérito mais-que-perfeito: O acusado defendeu-se, dizendo que não tinha roubado (que não roubara) nada
DIRETO – Verbo no futuro do presente: “Faremos justiça de qualquer maneira”
INDIRETO – Verbo no futuro do pretérito: Declararam que fariam justiça de qualquer maneira.
DIRETO – Verbo no imperativo: “Saia da delegacia”, disse o delegado ao promotor.
INDIRETO – Verbo no pretérito imperfeito do subjuntivo: O delegado ordenou ao promotor que saísse da delegacia.
DIRETO – Pronomes este, esta, isto, esse, essa, isso: “A esta hora não responderei nada”
INDIRETO – Pronomes aquele, aquela, aquilo: O gerente da empresa tentou justificar-se, dizendo que àquela hora não responderia nada à imprensa.
DIRETO – Advérbio aqui: “Daqui eu não saio tão cedo”
INDIRETO – Advérbio ali: O grevista certificou os policiais de que dali não sairia tão cedo..
Discurso indireto livre: Esse tipo de citação exige muita atenção do leitor, porque a fala do personagem não é destacada pelas aspas, nem introduzida por verbo dicendi ou travessão. A fala surge de repente, no meio da narração, como se fossem palavras do narrador. Mas, na verdade, são as palavras do personagem, que surgem como atrevidas, sem avisar a ninguém.
Exemplo: Carolina já não sabia o que fazer. Estava desesperada, com a fome encarrapitada. Que fome! Que faço? Mas parecia que uma luz existia…
A fala da personagem – em negrito, para que você possa enxergá-la – não foi destacada. Cabe ao leitor atento a sua identificação.

sábado, 7 de abril de 2012

GÊNERO TEXTUAL MANIFESTO E PANFLETO


MANIFESTO

O manifesto trata, geralmente, de denúncia de um problema, do anúncio de uma mudança para alertar a comunidade ou conclamá-la a uma ação determinada. É diferente do abaixo-assinado, pois não é uma reivindicação, mas uma declaração de intenções. 

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CARACTERÍSTICAS DO MANIFESTO
a) texto de intenção persuasiva, que objetiva alertar sobre um 
problema ou fazer a denúncia pública de um problema que está 
ocorrendo;
b) estrutura relativamente livre, mas com alguns elementos 
indispensáveis: título, identificação e análise do problema,
 argumentos que fundamentem o ponto de vista do autor do
 manifesto, local e data, assinatura dos autores e simpatizantes
 da causa;
c) linguagem geralmente no padrão culto formal da língua;
d) verbos predominantemente no presente do indicativo.

PANFLETO E FOLHETO


São textos de cunho persuasivo e intenção publicitária. Com essas variedades textuais, o autor apresenta produtos ou ideias e deseja levar o leitor ao seu consumo ou à sua aceitação. Configura-se, portanto, como uma exposição de características, levando-se em conta os diferenciais do produto e a pertinência das ideias.
(grifo nosso)
copiado de: http://www.portalsas.com.br/pdfs/lab_redacao/proposta1.pdf
nesse endereço você encontrará características de outros tipos de textos.


Lista dos principais  manifestos :
  • Manifesto comunista .
  • Manifesto Futurista
  • Manifesto da Poesia Pau Brasil
  •  Manifesto Antropófago
  • Manifesto Surrealista
  •  Manifesto dos Mineiros
E porque estamos falando de Modernismo Brasileiro vamos 
abaixo colocar alguns textos de manifestos relativos ao 
modernismo.
A 1ª revista modernista chamava-se Klaxon 
e teve em seu primeiro número um editorial-manifesto do qual
copiamos alguns trechos:

(...) Klaxon sabe que o progresso existe. Por isso,
 sem renegar o passado, caminha para diante,
 sempre, sempre. (...)

Klaxon não é exclusivista. Apesar disso jamais
Publicará  inéditos maus de bons escritores já mortos.

Klaxon não é futurista. Klaxon é klaxista.

(...) Klaxon cogita principalmente de arte. Mas
quer representar a época de 1920 em diante.
Por isso é polimorfo, onipresente, inquieto,
 cômico, irritante, contraditório, invejado,
insultado, feliz."

Alguns trechos do Manifesto Pau-Brasil 
de Oswald de Andrade:

"A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos
 verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos.

(...) A Poesia para os poetas. Alegria dos que não sabem e 
descobrem. (...)

A Poesia Pau-Brasil. Ágil e cândida. Como uma criança. (...)

A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica.
 A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. 
Como somos.

(...) Só não se inventou uma máquina de fazer versos - já havia 
o poeta parnasiano. (...)

A Poesia Pau-Brasil é uma sala de jantar domingueira, com 
passarinhos cantando na mata resumida das gaiolas, um sujeito
 magro compondo uma valsa para flauta e a Maricota lendo 
o jornal. No jornal anda todo o presente.

Nenhuma fórmula para a contemporânea expressão do mundo.
 Ver com olhos livres."

Manifesto do Verde-Amarelismo ou  da
 "Escola da Anta", que, entre outras coisas, afirmava:

"O grupo 'verdamarelo', cuja regra é a liberdade plena
de cada um ser brasileiro como quiser e puder; cuja
condição é cada um interpretar o seu país e o seu povo
através de si mesmo, da própria determinação instintiva;
 - o grupo `verdamarelo', à tirania das sistematizações
ideológicas, responde com a sua alforria e a amplitude
sem obstáculo de sua ação brasileira (...)
Aceitamos todas as instituições conservadoras, pois
é dentro delas mesmo que faremos a inevitável renovação
do Brasil, como o fez, através de quatro séculos,
a alma da nossa gente, através de todas as expressões
históricas.
Nosso nacionalismo é `verdamarelo' e tupi. (...)"


Veja, a seguir, exemplo de manifesto :

Manifesto à população contra a propaganda enganosa

"Atenção, consumidor compulsivo, antenado em rádio, televisão, outdoors, etc. Não se deixe levar pelos apelos sedutores nem pela aparência inicial de um produto ou serviço. Reflita. Não aja por impulso. Nem se deixe iludir com a conversa do anúncio, vendedor ou vendedora. A propaganda objetiva criará em você uma tal necessidade que você se sentirá excluído por não ter o objeto do desejo. Fique alerta, pois tudo não passa de um jogo psicológico. Tome cuidado com as promoções. Não compre sern pesquisar preços. Pechinche. Peça descontos e prazos para o pagamento. Aproveite o momento e exerça esse direito básico do consumidor. Exija nota fiscal, que é sua garantia. Sem ela você não poderá provar nada. Com ela, garantirá recursos destinados à construção de hospitais, escolas, etc. Recorra ao Código de Defesa do Consumidor para garantir seus direitos e denunciar abusos.

Defensores do Povo, abril de 2003.

Jovens, senhores e senhoras da comunidade representados por Ana Júlia Santos, Bernardo Silva, Cláudia Mendel, Dirceu Silva, Edna Carneiro, Fábio Lima, Gláucia Cordeiro, Maria do Céu."



Coesão
É a organização entre os elementos que articulam as idéias de um texto.

Exemplo:

* Não coeso:

Ele é muito estudioso, porém sempre tira notas boas.

* Coeso:

Ele é muito estudioso, por isso sempre tira notas boas.


Conexão
Além da constante referência entre palavras do texto, observa-se na coesão a propriedade de unir termos e orações por meio de conectivos, que são representados, na Gramática, por inúmeras palavras e expressões.

A escolha errada desses conectivos pode ocasionar a deturpação do sentido do texto.

Abaixo, uma lista dos principais elementos conectivos, agrupados pelo sentido.
Baseada no autor Othon Moacyr Garcia ("Comunicação em Prosa Moderna").

Prioridade, relevância:

em primeiro lugar, antes de mais nada, antes de tudo, em princípio, primeiramente, acima de tudo, precipuamente, principalmente, primordialmente, sobretudo, a priori (sempre em itálico), a posteriori (sempre em itálico).

Tempo (freqüência, duração, ordem, sucessão, anterioridade, posterioridade):

então, enfim, logo, logo depois, imediatamente, logo após, a princípio, no momento em que, pouco antes, pouco depois, anteriormente, posteriormente, em seguida, afinal, por fim, finalmente agora atualmente, hoje, freqüentemente, constantemente às vezes, eventualmente, por vezes, ocasionalmente, sempre, raramente, não raro, ao mesmo tempo, simultaneamente, nesse ínterim, nesse meio tempo, nesse hiato, enquanto, quando, antes que, depois que, logo que, sempre que, assim que, desde que, todas as vezes que, cada vez que, apenas, já, mal, nem bem.

Semelhança, comparação, conformidade:

igualmente, da mesma forma, assim também, do mesmo modo, similarmente, semelhantemente, analogamente, por analogia, de maneira idêntica, de conformidade com, de acordo com, segundo, conforme, sob o mesmo ponto de vista, tal qual, tanto quanto, como, assim como, como se, bem como.

Condição, hipótese:


se, caso, eventualmente.

Adição, continuação:

além disso, demais, ademais, outrossim, ainda mais, ainda cima, por outro lado, também, e, nem, não só ... mas também, não só... como também, não apenas ... como também, não só ... bem como, com, ou (quando não for excludente).

Dúvida:

talvez, provavelmente, possivelmente, quiçá, quem sabe, é provável, não é certo, se é que.

Certeza, ênfase:

decerto, por certo, certamente, indubitavelmente, inquestionavelmente, sem dúvida, inegavelmente, com toda a certeza.

Surpresa, imprevisto:

inesperadamente, inopinadamente, de súbito, subitamente, de repente, imprevistamente, surpreendentemente.

Ilustração, esclarecimento:

por exemplo, só para ilustrar, só para exemplificar, isto é, quer dizer, em outras palavras, ou por outra, a saber, ou seja, aliás.

Propósito, intenção, finalidade:

com o fim de, a fim de, com o propósito de, com a finalidade de, com o intuito de, para que, a fim de que, para.

Lugar, proximidade, distância:

perto de, próximo a ou de, junto a ou de, dentro, fora, mais adiante, aqui, além, acolá, lá, ali, este, esta, isto, esse, essa, isso, aquele, aquela, aquilo, ante, a.

Resumo, recapitulação, conclusão:

em suma, em síntese, em conclusão, enfim, em resumo, portanto, assim, dessa forma, dessa maneira, desse modo, logo, pois (entre vírgulas), dessarte, destarte, assim sendo

Causa e conseqüência. Explicação:


por conseqüência, por conseguinte, como resultado, por isso, por causa de, em virtude de, assim, de fato, com efeito, tão (tanto, tamanho) ... que, porque, porquanto, pois, já que, uma vez que, visto que, como (= porque), portanto, logo, que (= porque), de tal sorte que, de tal forma que, haja vista.

Contraste, oposição, restrição, ressalva:

pelo contrário, em contraste com, salvo, exceto, menos, mas, contudo, todavia, entretanto, no entanto, embora, apesar de, ainda que, mesmo que, posto que, posto, conquanto, se bem que, por mais que, por menos que, só que, ao passo que.

Idéias alternativas:

Ou, ou... ou, quer... quer, ora... ora.

Conectivos
Conectivos ou elementos de coesão são todas as palavras ou expressões que servem para estabelecer elos, para criar relações entre segmentos do discurso, tais como: então, portanto, já que, com efeito, porque, ora, mas, assim, daí, aí, dessa forma, isto é, embora e tantas outras.
Veja o exemplo:

Israel possui um solo árido e pouco apropriado à agricultura, porém chega a exportar certos produtos agrícolas.

No caso, faz sentido o uso do porém, já que entre os dois segmentos ligados existe uma contradição. Seria descabido permutar o porém pelo porque, que serve para indicar causa.

Relação dos principais elementos de coesão:

1) assim, desse modo: têm um valor exemplificativo e complementar.

A seqüência introduzida por eles serve normalmente para explicitar, confirmar ou ilustrar o que se disse antes.

O Governador resolveu não comprometer-se com nenhuma das facções em disputa pela liderança do partido. Assim, ele ficará à vontade para negociar com qualquer uma que venha a vencer.

2) e: anuncia o desenvolvimento do discurso e não a repetição do que foi dito antes; indica uma progressão que adiciona, acrescenta, algum dado novo. Se não acrescentar nada, constitui pura repetição e deve ser evitada. Ao dizer:

Tudo permanece imóvel e fica sem se alterar.

3) ainda: serve, entre outras coisas, para introduzir mais um argumento a favor de determinada conclusão, ou para incluir um elemento a mais dentro de um conjunto qualquer.

O nível de vida dos brasileiros é baixo porque os salários são pequenos. Convém lembrar ainda que os serviços públicos são extremamente deficientes.

4) aliás, além do mais, além de tudo, além disso: introduzem um argumento decisivo, apresentado como acréscimo, como se fosse desnecessário, justamente para dar o golpe final no argumento contrário.

Os salários estão cada vez mais baixos porque o processo inflacionário diminui consideravelmente seu poder de compra. Além de tudo são considerados como renda e taxados com impostos.

5) isto é, quer dizer, ou seja, em outras palavras: introduzem esclarecimentos, retificações ou desenvolvimento do que foi dito anteriormente.

Muitos jornais, fazem alarde de sua neutralidade em relação aos fatos, isto é, de seu não comprometimento com nenhuma das forças em ação no interior da sociedade.

6) mas, porém e outros conectivos adversativos: marcam oposição entre dois enunciados ou dois segmentos do texto. Não se podem ligar, com esses relatores, segmentos que não se opõem. Às vezes, a oposição se faz entre significados implícitos no texto.

Choveu na semana passada, mas não o suficiente para se começar o plantio.

7) embora, ainda que, mesmo que: são relatores que estabelecem ao mesmo tempo uma relação de contradição e de concessão. Servem para admitir um dado contrário para depois negar seu valor de argumento.

Trata-se de um expediente de argumentação muito vigoroso: sem negar as possíveis objeções, afirma-se um ponto de vista contrário.
Observe o exemplo:
Ainda que a ciência e a técnica tenham presenteado o homem com abrigos confortáveis, pés velozes como o raio, olhos de longo alcance e asas para voar, não resolveram o problema das injustiças.
Como se nota, mesmo concedendo ou admitindo as grandes vantagens da técnica e da ciência, afirma-se uma desvantagem maior.

O uso do embora e conectivos do mesmo sentido pressupõe uma relação de contradição, que, se não houve, deixa o enunciado descabido.
Exemplo:

Embora o Brasil possua um solo fértil e imensas áreas de terras plantáveis, vamos resolver o problema da fome.

8. Certos elementos de coesão servem para estabelecer gradação entre os componentes de uma certa escala. Alguns, como mesmo, até, até mesmo, situam alguma coisa no topo da escala; outros, como ao menos, pelo menos, no mínimo, situam-na no plano mais baixo.

O homem é ambicioso. Quer ser dono de bens materiais, da ciência, do próprio semelhante, até mesmo do futuro e da morte.

ou

É preciso garantir ao homem seu bem-estar: o lazer, a cultura, a liberdade, ou, no mínimo, a moradia, o alimento e a saúde.

Às vezes o conectivo tem seu uso inadequado de forma proposital, que revela um preconceito ou uma ironia. Mário Amato, ex-presidente da Fiesp, referiu-se à ex-ministra Dorothea Werneck desta forma:

Ela é mulher, mas é capaz. (Ironia)


Características da Literatura Modernista
- Liberdade de expressão

Poética

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o
cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de excepção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora
de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário
do amante exemplar com cem modelos de cartas
e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

Manuel Bandeira


- Incorporação do cotidiano

A aventura do cotidiano leva o artista a romper com os esquemas de vida burguesa. Ele descobre o folclórico e o popular, elementos dos quais se apropriará, muitas vezes indevidamente. Acima de tudo, o artista está consciente de que todos os objetos podem se tornar literários.

Poema Tirado de uma Notícia de Jornal

João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.

Manuel Bandeira


- Linguagem coloquial

Oswald de Andrade preconiza no Manifesto da Poesia Pau Brasil, de 1824:

A língua sem arcaísmos. Sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros.

Ele próprio ironiza esta questão em Vício na fala:

Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.


Também Manuel Bandeira admite a contribuição da linguagem popular:

A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil (...)


Todas as palavras são permitidas. Vinicius de Moraes, em dado poema, chama a mulher amada de "grandessíssima filha de uma vaca". Do mesmo Vinícius, quem não lembra Poema enjoadinho:

Filhos...Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não temos
Como sabê-lo
Se não os temos
Que de consulta
Quando silêncio
Como os queremos! (...)
E então começa
a aporrinhação
cocô está branco
cocô está preto
Bebeu amoníaco
Comeu botão
Filhos? Filhos
melhor não tê-los (...)
Filhos são o demo
Melhor não tê-los
Mas se não os temos
Como sabê-lo? (...) 



INOVAÇÕES TÉCNICAS

O rompimento com os padrões culturais do século XIX implicaria no aparecimento de novas técnicas, tanto no domínio da poesia, quanto no da ficção. As principais conquistas foram:

- Verso livre
- Destruição dos nexos
- Paronomásia (consiste na junção de palavras de sonoridade muito parecida, mas de significado diferente)


Carlos Drummond é um especialista em paronomásias:

"Melancolias, mercadorias espreitam-me."

- Enumeração caótica
- Fluxo da consciência (monólogo interior levado para o texto de ficção sem qualquer obediência à normalidade gramatical, à lógica ou mesmo à coerência).
- Colagem e montagem cinematográfica
- Ampliação das vozes narrativas
- Liberdade no uso dos sinais de pontuação


Segunda Geração Modernista (1930-1945)
A literatura quase sempre privilegia o romance quando quer retratar a realidade, analisando ou denunciando-a.

O Brasil e o mundo viveram profundas crises nas décadas de 1930 e 40, nesse momento o romance brasileiro se destaca, pois se coloca a serviço da análise crítica da realidade.

O quadro social, econômico e político que se verificava no Brasil e no mundo no início da década de 1930 – a bomba atômica sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki, o nazifascismo, a crise da Bolsa de Nova Iorque, a crise cafeeira, o combate ao socialismo – exigia dos artistas uma nova postura diante da realidade, nova posição ideológica.

Características

- Repensar a historia nacional com humor e ironia - " Em outubro de 1930 / Nós fizemos — que animação! — / Um pic-nic com carabinas." (Festa Familiar - Murilo Mendes)
- Verso livre e poesia sintética - " Stop. / A vida parou / ou foi o automóvel?" (Cota Zero, Carlos Drummond de Andrade)
- Nova postura temática - questionar mais a realidade e a si mesmo enquanto indivíduo
- Tentativa de interpretar o estar-no-mundo e seu papel de poeta
- Literatura mais construtiva e mais politizada.
- Surge uma corrente mais voltada para o espiritualismo e o intimismo (Cecília, Murilo Mendes, Jorge de Lima e Vinícius)
- Aprofundamento das relações do eu com o mundo
- Consciência da fragilidade do eu - "Tenho apenas duas mãos / e o sentimento do mundo" (Carlos Drummond de Andrade - Sentimento do Mundo)
- Perspectiva única para enfrentar os tempos difíceis é a união, as soluções coletivas - "O presente é tão grande, ano nos afastemos, / Ano nos afastemos muito, vamos de mãos dadas." (Carlos Drummond de Andrade - Mãos dadas)

Autores

Legenda: x = poesia xx = prosa

· x Augusto Frederico Schmidt (1906-1965)
· x Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
· x Cassiano Ricardo (1895-1974)
· x Cecília Meireles (1901-1964)
· x Cornélio Pena (1896-1958)
· xx Érico Veríssimo (1905-1975)
· xx Graciliano Ramos (1892-1953)
· xx Jorge Amado (1912-2001)
· x Jorge de Lima (1893-1953)
· xx José Lins do Rego (1901-1957)
· x Lúcio Cardoso (1913-1968)
· x Murilo Mendes (1901-1975)
· xx Rachel de Queiroz (1910-2003)
· x Vinícius de Moraes (1913-1980)

1945 - fim da 2ª Guerra Mundial, início da Era Atômica (Hiroshima e Nagasaki), ONU, Declaração dos Direitos do Homem, Guerra Fria. No Brasil, fim da ditadura Vargas, redemocratização brasileira, retomada de perseguições políticas, ilegalidades e exílios.


Primeira Geração Modernista (1922-1930)
Características

- Busca do moderno, original e polêmico.
- Nacionalismo em suas múltiplas facetas.
- Volta às origens e valorização do índio verdadeiramente brasileiro.
- “Língua brasileira” - falada pelo povo nas ruas.
- Paródias - tentativa de repensar a história e a literatura brasileiras.

Autores

· Antônio de Alcântara Machado (1901-1935)
· Cassiano Ricardo (1895-1974)
· Guilherme de Almeida (1890-1969)
· Manuel Bandeira (1886-1968)
· Mário de Andrade (1893-1945)
· Menotti del Picchia (1892-1988)
· Oswald de Andrade (1890-1953)
· Plínio Salgado (1895-1975)
· Raul Bopp (1898-1984) Ronald de Carvalho (1893-1935)


Modernismo - Manifestos e Revistas
                                                  
Revista Klaxon — Mensário de Arte Moderna (1922-1923)

Recebe este nome, pois klaxon era o termo usado para designar a buzina externa dos automóveis. Primeiro periódico modernista, é conseqüência das agitações em torno da SAM. Inovadora em todos os sentidos: gráfico, existência de publicidade, oposição entre o velho e o novo.

“— Klaxon sabe que o progresso existe. Por isso, sem renegar o passado, caminha para diante, sempre, sempre.”

Manifesto da Poesia Pau-Brasil (1924-1925)


Escrito por Oswald e publicado inicialmente no Correio da Manhã. Em 1925, é publicado como abertura do livro de poesias Pau-Brasil de Oswald. Apresenta uma proposta de literatura vinculada à realidade brasileira, a partir de uma redescoberta do Brasil.

“— A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela sob o azul cabralino, são fatos estéticos.”

“— A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos.”

Verde-Amarelismo (1926-1929)

É uma resposta ao nacionalismo do Pau-Brasil. Grupo formado por Plínio Salgado, Menotti del Picchia, Guilherme de Almeida e Cassiano Ricardo. Criticavam o “nacionalismo afrancesado” de Oswald. Sua proposta era de um nacionalismo primitivista, ufanista, identificado com o fascismo, evoluindo para o Integralismo de Plínio Salgado (década de 30). Idolatria do tupi e a anta é eleita símbolo nacional. Em maio de 1929, o grupo verde-amarelista publica o manifesto “Nhengaçu Verde-Amarelo — Manifesto do Verde-Amarelismo ou da Escola da Anta”.

Manifesto Regionalista de 1926

1925 e 1930 é um período marcado pela difusão do Modernismo pelos estados brasileiros. Nesse sentido, o Centro Regionalista do Nordeste (Recife) busca desenvolver o sentimento de unidade do Nordeste nos novos moldes modernistas. Propõem trabalhar em favor dos interesses da região, além de promover conferências, exposições de arte, congressos etc. Para tanto, editaram uma revista. Vale ressaltar que o regionalismo nordestino conta com Graciliano Ramos, José Lins do Rego, José Américo de Almeida, Rachel de Queiroz, Jorge Amado e João Cabral - na 2ª fase modernista.

Revista Antropofagia (1928-1929)

Contou com duas fases (dentições): a primeira com 10 números (1928 e 1929) direção Antônio Alcântara Machado e gerência de Raul Bopp; a segunda foi publicada semanalmente em 16 números no jornal Diário de São Paulo (1929) e seu “açougueiro” (secretário) era Geraldo Ferraz. É uma nova etapa do nacionalismo Pau-Brasil e resposta ao grupo Verde-amarelismo. A origem do nome movimento esta na tela “Abaporu”(O que come) de Tarsila do Amaral.


Manifesto Antropofágico
“SÓ A ANTROPOFAGIA nos une, Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. / Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. / De todos os tratados de paz. / Tupi or not tupi, that is the question.” (Manifesto Antropófago)

Publicado na Revista Antropofagia (1928), propunha basicamente a devoração da cultura e das técnicas importadas e sua reelaboração com autonomia, transformando o produto importado em exportável. O nome do manifesto recuperava a crença indígena: os índios antropófagos comiam o inimigo, supondo que assim estavam assimilando suas qualidades.



segunda-feira, 2 de abril de 2012

REFLEXÕES: - "Não devemos servir de exemplo a ninguém. Mas podemos servir de lição." - "O passado é lição para se meditar, não para se reproduzir." - "Passado é lição para refletir, não para repetir." - "Escrevo sem pensar, tudo o que o meu inconsciente grita. Penso depois: não só para corrigir, mas para justificar o que escrevi." MÁRIO DE ANDRADE