sábado, 7 de abril de 2012


Características da Literatura Modernista
- Liberdade de expressão

Poética

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. Diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o
cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de excepção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora
de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário
do amante exemplar com cem modelos de cartas
e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

Manuel Bandeira


- Incorporação do cotidiano

A aventura do cotidiano leva o artista a romper com os esquemas de vida burguesa. Ele descobre o folclórico e o popular, elementos dos quais se apropriará, muitas vezes indevidamente. Acima de tudo, o artista está consciente de que todos os objetos podem se tornar literários.

Poema Tirado de uma Notícia de Jornal

João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.

Manuel Bandeira


- Linguagem coloquial

Oswald de Andrade preconiza no Manifesto da Poesia Pau Brasil, de 1824:

A língua sem arcaísmos. Sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros.

Ele próprio ironiza esta questão em Vício na fala:

Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.


Também Manuel Bandeira admite a contribuição da linguagem popular:

A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil (...)


Todas as palavras são permitidas. Vinicius de Moraes, em dado poema, chama a mulher amada de "grandessíssima filha de uma vaca". Do mesmo Vinícius, quem não lembra Poema enjoadinho:

Filhos...Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não temos
Como sabê-lo
Se não os temos
Que de consulta
Quando silêncio
Como os queremos! (...)
E então começa
a aporrinhação
cocô está branco
cocô está preto
Bebeu amoníaco
Comeu botão
Filhos? Filhos
melhor não tê-los (...)
Filhos são o demo
Melhor não tê-los
Mas se não os temos
Como sabê-lo? (...) 



INOVAÇÕES TÉCNICAS

O rompimento com os padrões culturais do século XIX implicaria no aparecimento de novas técnicas, tanto no domínio da poesia, quanto no da ficção. As principais conquistas foram:

- Verso livre
- Destruição dos nexos
- Paronomásia (consiste na junção de palavras de sonoridade muito parecida, mas de significado diferente)


Carlos Drummond é um especialista em paronomásias:

"Melancolias, mercadorias espreitam-me."

- Enumeração caótica
- Fluxo da consciência (monólogo interior levado para o texto de ficção sem qualquer obediência à normalidade gramatical, à lógica ou mesmo à coerência).
- Colagem e montagem cinematográfica
- Ampliação das vozes narrativas
- Liberdade no uso dos sinais de pontuação

Um comentário:

  1. Professora, apreciei seu blog por ser claro e objetivo. Gostaria de avisar que no trecho:
    "- Linguagem coloquial

    Oswald de Andrade preconiza no Manifesto da Poesia Pau Brasil, de 1824", o ano é 1924. Houve um engano na digitação.
    Atenciosamente,
    Elaine

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